A cidade Maia milenar encontrada por acaso por estudante de doutorado

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Por Agência 217 em 29/10/2024 às 08:51:10
A cidade tem o tamanho de Edimburgo, na Escócia, e está entre os maiores sítios maias de toda a América Latina. Não há fotos da cidade maia recém-descoberta, mas ela tinha templos piramidais semelhantes a este em Calakmul, que fica nas proximidades

Getty Images via BBC

Uma enorme cidade maia foi descoberta séculos depois de desaparecer sob a copa das árvores numa selva no México.

Arqueólogos encontraram pirâmides, uma arena de jogos, vias que conectam diferentes distritos e anfiteatros no Estado de Campeche, no sudeste do país.

Eles descobriram o complexo — que foi batizado de Valeriana — com a ajuda do Lidar, um tipo de tecnologia que faz um rastreamento a laser para mapear estruturas escondidas sob a vegetação.

Eles acreditam que a cidade recém-descoberta é a segunda em densidade, atrás apenas de Calakmul, considerado o maior sítio arqueológico maia de toda a América Latina.

A equipe descobriu três sítios no total, que são do tamanho aproximado da cidade de Edimburgo, capital da Escócia, "por acidente" quando um arqueólogo investigou alguns dados disponíveis na internet.

Descoberta ao acaso

"Eu estava em algo como a página 16 dos resultados de pesquisa do Google e encontrei uma pesquisa a laser feita por uma organização mexicana para monitoramento ambiental", explica Luke Auld-Thomas, um estudante de doutorado na Universidade Tulane, nos Estados Unidos.

O estudo que ele encontrou utilizou o Lidar, uma técnica de sensoriamento remoto que dispara milhares de pulsos de laser de um avião e mapeia a presença de objetos e construções. Para isso, a tecnologia leva em conta o tempo que o sinal leva para retornar à aeronave.

Mas quando Auld-Thomas processou os dados com métodos usados ??por arqueólogos, ele viu o que outros não tinham observado ainda — uma enorme cidade antiga que pode ter sido o lar de 30 mil a 50 mil pessoas durante seu auge, em meados de 750 a 850 d.C.

Esse número supera a quantidade de habitantes da região nos dias de hoje, apontam os pesquisadores.

Auld-Thomas e seus colegas nomearam a cidade de Valeriana em homenagem a uma lagoa próxima.

A recente descoberta ajuda a mudar uma ideia no pensamento ocidental de que a região dos trópicos era onde "as civilizações iam para morrer", diz o professor Marcello Canuto, coautor da pesquisa.

Em vez disso, essa parte do mundo era o lar de culturas ricas e complexas, observa ele.

Não podemos ter certeza do que causou o fim e o abandono da cidade, mas os arqueólogos dizem que as mudanças climáticas foram um fator importante nesse processo.

A cidade de Valeriana tem as "características de uma capital" e só ficou atrás em densidade de edifícios do espetacular sítio Calakmul, a cerca de 100 km de distância.

Ela está "escondida à vista de todos", de acordo com os arqueólogos, pois fica a apenas 15 minutos de caminhada de uma estrada principal perto de Xpujil, onde há um povoado maia nos dias de hoje.

Não há fotos conhecidas da cidade perdida porque "ninguém nunca esteve lá", dizem os pesquisadores, embora os moradores da região possam ter suspeitado que havia ruínas sob os montes de terra.

A cidade, que tinha cerca de 16,6 km², possuía dois centros principais com grandes edifícios a cerca de 2 km de distância, ligados por casas e calçadas.

Ela ainda apresenta duas praças com pirâmides, onde o povo maia teria feito cerimônias, escondido tesouros, como máscaras de jade, e enterrado os mortos.

Valeriana também tinha uma arena, onde as pessoas teriam praticado um antigo jogo de bola.

Também há evidências de um reservatório de água com barragens, o que indica a possibilidade de manter uma grande população neste local.

No total, Auld-Thomas e Canuto pesquisaram três locais diferentes na selva. Eles encontraram 6.764 prédios de tamanhos variados.

O que causou o colapso

A professora Elizabeth Graham, da University College London, no Reino Unido, que não está diretamente envolvida com pesquisa, concorda com a ideia de que os maias viviam em cidades complexas, e não em vilas isoladas.

"A questão é como a paisagem foi estabelecida no passado, e não como ela parece hoje em dia, a olho nu, desabitada ou selvagem", pontua ela.

A pesquisa sugere que o colapso das civilizações maias de 800 d.C. em diante se deveu em parte porque as cidades eram densamente povoadas e não conseguiam sobreviver aos problemas climáticos.

"As evidências sugerem que o local estava completamente lotado de pessoas no início das condições de seca e não havia muita flexibilidade. Então, talvez todo o sistema basicamente se desfez à medida que as pessoas se mudavam para mais longe", especula Auld-Thomas.

A guerra e a conquista da região por invasores espanhóis no século 16 também contribuíram para a erradicação das cidades-Estado maias.

Muitas outras cidades podem ser encontradas

A tecnologia Lidar revolucionou a forma como os arqueólogos pesquisam áreas cobertas de vegetação, especialmente na região tropical.

Na avaliação do professor Canuto, isso abre um mundo de civilizações perdidas.

Nos primeiros anos de carreira do pesquisador, as investigações eram feitas a pé, com o auxílio de instrumentos simples para verificar o solo centímetro por centímetro.

No entanto, desde que o Lidar começou a ser utilizado na região mesoamericana, durante a última década, ele diz que conseguiu mapear cerca de 10 vezes a área que os arqueólogos conseguiram avaliar em cerca de um século de trabalho.

Auld-Thomas destaca que o trabalho sugere que ainda existem muitos sítios dos quais os arqueólogos não têm ideia.

Na verdade, tantos locais habitados no passado foram encontrados que os pesquisadores terão muito trabalho para conseguir escavar todos eles.

"Tenho que ir para Valeriana em algum momento. É tão perto da estrada... Mas não posso dizer que faremos um projeto lá", diz Auld-Thomas.

"Uma das desvantagens de descobrir muitas novas cidades maias na era do Lidar é que há mais delas do que nossa capacidade de estudá-las", acrescenta ele.

A pesquisa que detalha a descoberta da cidade de Valeriana foi publicada no periódico acadêmico Antiquity.

Fonte: G1

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